sábado, 4 de dezembro de 2010


A sociolinguística e o fenômeno da diversidade na língua de um grupo social: dialetos sociais e níveis de fala ou registros


            A língua como caráter social é entendida como um sistema de signos, dos quais facultam a possibilidade de comunicação entre membros de uma mesma comunidade. Entre sociedade e língua não há uma relação de causalidade, pois desde que nascemos vários signos linguísticos encontramos, são inúmeras possibilidades comunicativas que começam a tornar-se, assim começamos a formular mensagens, para obtermos uma comunicação entre os membros pertencentes da mesma comunidade.
            Como suporte de uma dinâmica social a língua compreende não só as relações diárias entre os membros da comunidade ela funciona como atividade intelectual, como um fluxo informativo dos meios de comunicação. A língua funciona como elemento de interação entre individuo e sociedade, através dela que a realidade se transforma em signos, o estudo da língua pode ligar-se a sociologia, abrindo novos campos de pesquisa, como a sociolingüística.
             O interesse que as pesquisas tinham nos estudos desta disciplina nas décadas de 50 e 60 nos Estados Unidos, foram na divulgação de estudos de comunicação, á necessidade de maior aproximação com outros povos, ou seja, um conhecimento melhor da comunidade. A pesquisa do linguista Benjamim L. Whorf teve papel importante, pois fez um estudo da língua dos índios americanos, partindo da estrutura do conteúdo, focalizando ao processo de analise da realidade na ligua hopi. Assim estudiosos foram fazendo estudos nesta área especifica, visando conhecer melhor as comunidades.
             A princípio poderia dizer que a sociolingüística, focaliza-se ao estudo das relações entre as variações linguísticas e as variações sociológicas, porém com alargamento que se deu ao enfoque das relações de sociedade e língua, mostraram que este estudo se alonga em outros compôs como as forma que conduz o estudo das estruturas do pensamento de certas comunidades, e a forma de articulação linguisticamente sua realidade.
Um campo especifico da nova disciplina foi a etnolinguística, defina por Pottier como estudo da mensagem lingüística em ligação com o conjunto de circunstâncias da comunicação. Mas não pode-se condicionar diretamente a língua aos fatores culturais ou raciais, embora estão interligados um ao outro. O foco principal da etnolinguística é pesquisar as línguas de pequenas comunidades ou afastadas da civilização cujas estruturas documentam melhor uma visão original do mundo.
Mas as diferenças não se limitam ao visível, óbvio princípio do mundo poliglota. Dentro de um mesmo grupo social as particularidades da linguagem são notadas ou apresentam diferenças gritantes e até preconceituosas constituindo em fenômeno linguístico e sociais configurando o campo de atuação e estudo da Sociolingüística.
            Formularam-se três dimensões básicas pra equacionar os problemas da sociolinguística, por William Bright que abordava problemas que iam além da simples relação de língua com sociedade, as três dimensões eram: a dimensão do emissor, a do receptor e a da situação ou contexto, A primeira dimensão diz respeito à identidade social do falante, a segunda compreende a identidade social do ouvinte e a terceira envolve todos os elementos possíveis no contexto da comunicação, exceto os da primeira e segunda dimensão, sendo a língua um acontecimento cuja estrutura e léxico funcionariam como elementos representativos da variação social, onde a fala apresenta variações de escolha por um lado e de outro a força repressiva da norma comum, onde o primeiro fenômeno constitui um dos principais problemas a sociolingüística: a diversidade/uniformidade, condicionada por fatores extralingüísticos.
No entanto são varias as tentativas para a classificação desses fatores extralinguísticos, que influem na maneira de falar, e elas envolvem distinções geográficas, históricas, econômicas, políticas, sociológicas, estéticas, muitas estão ligadas ao fenômeno da comunicação e colocam problemas de relacionamento entre ouvinte, falante e situação.
 As variações extralingüísticas manifestam-se no diálogo por três espécies, segundo a sociolingüística francesa, da qual procurava na fala de um indivíduo os índices de sua classificação social. São elas:  geográficas: envolvem as variações e é necessário separá-las com cuidado, par que as diferenças por elas determinadas não sejam confundidas com as ocorridas por influência sociológica, numa mesma comunidade; sociológicas: compreendem as variações provenientes da idade, sexo, profissão, nível de estudo, classe social, localização dentro da mesma região, raça, as quais podem determinar traços originais na linguagem individual; contextuais: consta de tudo aquilo que pode detectar diferenças na linguagem do locutor, por influências alheias a ele, como por exemplo, o assunto, o tipo de ouvinte, o lugar que o diálogo ocorre e as relações que unem os interlocutores.
Tratando da individualidade do saber linguístico, apresenta as variedades da língua disposta em dois grupos:  variedades sincrônicas: cronologicamente simultâneas observáveis num mesmo plano temporal. Compreenderiam as variações causadas por fatores geográficos, sócio-culturais e estilísticos;  variedades diacrônicas: compreendem aquelas dispostas em vários
planos de uma só tradição histórica.
            Em função das teorias com uma relatividade de identificação entre individuo e língua pode-se observar que nem sempre é possível dizer com precisão que um indivíduo de determinada região, cultura, posição social, raça, idade, sexo etc., escolheria estruturas e formas que pudéssemos prever. Neste sentido Gleason faz um estudo mostrando que o estudo específico não tem mostrado geralmente proveitoso, exceto em relação aos defeitos da fala.
             Hockett refere-se a outro problema o chamado idioleto produtivo os conhecimentos linguísticos utilizados pelo individuo ao se expressar na fala denominado idioleto receptivo os conhecimentos passivos do individuo, provenientes da linguagem dos emissores.
            Assim com as varias opiniões formadas, são levantas de passagem o estudo do problema da variedade lingüística: variedades geográficas (ou diatópicas) que são aquelas que ocorrem num plano horizontal da língua, na concordância das comunidades lingüísticas, sendo responsáveis pelos chamados regionalismos, provenientes de dialetos ou falares locais; variedades socioculturais (ou diastráticas) ocorrem num plano vertical, isto é dentro da linguagem de uma comunidade específica, as variações socioculturais podem ser influenciadas por fatores ligados diretamente ao falante ou a situação.
            As variedades devidas ao falante (ou ao grupo a que pertence) englobam idade, sexo, raça, profissão, local que reside na comunidade, todos associados à interação por meio da fala na sociedade. Variedades devidas à situação que esta ligada direta aos usuários da língua, que com as variações do uso da linguagem surgem suas espécies de nível de fala: nível de fala ou registro formal, empregado em situações de formalidade, com predomínio da norma culta, e o nível de fala ou registro coloquial, para os falantes, com predominância de estruturas e vocabulários da linguagem popular, gíria, expressões obscenas pó de natureza afetiva.
            Assim “o indivíduo não apenas sabe falar, mas também sabe como outros falam”, gerando o problema, dentre outros, de saber até que ponto o conhecimento lingüístico, expresso na fala do indivíduo, revelaria de fato o seu nível de linguagem, pois o falante, além dos signos lingüísticos habituais (vocabulário ativo), conhece outra forma que não utiliza, mas que são usados por outro, como locutores nesses atos de fala em que ele, como receptor, os reconhece e compreende. A esse fenômeno do saber ativo do sujeito expresso na fala, denomina-se “idioleto produtivo” e “idioleto receptivo”, conhecimento passivo dele, provenientes da linguagem dos emissores que ouve.












Referência
           

PETRI, Dino. A sociolinguística e o fenômeno da diversidade na língua de um grupo social: dialetos sociais e níveis de fala ou registros. In:______. Sociolinguística: os níveis de fala: um estudo sociolingüístico do diálogo na literatura brasileira. 9.ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2003. p.11-41.